quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A Virtude do Bom Humor

 A Virtude do Bom Humor


     



 O bom humor também é uma virtude santa ao contrário do que muitos pensam. A espiritualidade cristã não é uma espiritualidade triste, e os religiosos mais profundos são os mais sorridentes e não os mais "carrancudos". 

 A falta de bom humor paralisa a vida, corrompe o "sabor" da existência e prejudica a nossa relação com o próximo e com Deus. Se tivermos uma postura extremamente rígida e séria em tudo, estaremos cavando o poço da infelicidade e da amargura. Deus quer a nossa liberdade de sorrir pela vida ainda que tenhamos provações para superar. 

 O bom humor pode ser uma manifestação de generosidade. Com bom senso, podemos aplicar o bom humor de um jeito amigável, leve e simpático diante daquela pessoa que está triste. Muitas vezes, não são os conselhos mais profundos que levantam uma pessoa, mas uma frase divertida acompanhada de uma risada amorosa e de uma piada inocente. 

 O bom humor manifesta a nossa magnificência também, pois representa a grandeza da nossa alma que prefere optar por uma postura entusiasmada diante da vida. A pessoa bem-humorada é uma pessoa entusiasmada -- e uma pessoa bem-humorada é uma pessoa cheia de Deus.

  Curiosamente, a palavra "entusiasmo" é composta de duas expressões do grego: “em” + “theos”. Essa composição grega da palavra "entusiasmo" literalmente quer dizer “em Deus”. Sendo assim, a pessoa entusiasmada é aquela que está repleta de Deus. Manifestar entusiasmo é manifestar o calor fraterno e feliz de Deus em nós.

  Muitas vezes, as pessoas criam uma imagem equivocada da religião e imaginam os religiosos como seres carrancudos, tristes e "frios". Entretanto, aqueles que têm a chama da fé acesa dentro de si, geralmente, são as pessoas mais entusiasmadas, calorosas e sorridentes. Muito embora a religião tenha os seus dogmas e as suas virtudes de seriedade, penitência e sacrifício, a busca por Deus é a busca pela plenitude e pela felicidade. A fé sempre deixa marcas de esperança e bom humor em cada devoto. 


     


   É provável que a taxa de depressão do mundo atual esteja relacionada ao estresse da vida moderna, a qual retirou a fé e o bom humor do seu eixo de produtividade. Contudo, com fé e bom humor, podemos ter muito mais qualidade de vida e, consequentemente, uma produtividade com muito mais virtudes. A correria da vida moderna e o ceticismo presente nas filosofias que regem o mundo atualmente são os grandes males humanos que impedem a manifestação do bom humor e da felicidade. 

  Bom humor não se trata de piada, mas de uma postura entusiasmada e alegre diante da vida. Às vezes, o bom humor inclui piadas inocentes e gestos de brincadeira que revelam a nossa criança interior. A parte mais linda do bom humor é a revelação da nossa criança interior. 

  Quem não tem bom humor esqueceu de cultivar a criança que vive em si. Engana-se quem pensa que precisamos abandonar a nossa criança interior para amadurecer em nossa vida e em nossa religião. Podemos amadurecer, lapidar a nossa alma, ver a vida com olhos mais sábios e, ainda assim, cultivar o lado leve da criança que brinca dentro de nós. 

  Jesus jamais rejeitaria a sua criança interior. Para os cristãos, é importante deixar viva a leveza da criança que mora em nós. Disse Jesus (Mateus 19:14): "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas".

  Infelizmente, o bom humor é uma virtude perdida atualmente. Os jovens não veem mais a graça das piadas inocentes e é difícil provocar risadas nas pessoas hoje em dia. Os programas de humor viraram bandeiras políticas sem graça que usam da maldade para atacar a nossa fé. O bom humor perdeu espaço para o "mau humor", assim como a inocência foi corrompida pelo sarcacasmo e pela maledicência. 

   O verdadeiro bom humor é aquele que ri junto com o outro generosamente e não aquele que "tira sarro" do outro com maldade. A corrupção do humor atual revela uma sociedade triste, "engessada" e que perdeu o contato com a criança inocente e divertida que mora em seu interior. 

    Dentro da Igreja Católica, há santos que se destacaram pelo seu bom humor: São João Paulo II, São João Bosco, São Felipe Neri, São Alberto Hurtado e São Félix. 


      


  O Papa São João Paulo II ficou conhecido por sua alegria, sorriso simpático e bom humor. Ele apreciava o bom humor em suas melhores formas. Sabe-se que ele gostava de assistir às apresentações de humor e ria diante da atuação do palhaço Diego Poole, conhecido como o palhaço que fez rir São João Paulo II. 

  Diego Poole é professor universitário e já participou de atuações como palhaço diante de João Paulo II.  Há um vídeo na internet sobre a alegria do Papa João Paulo II na Audiência de 1990. Nesse vídeo, podemos ver as risadas mais entusiasmadas de São João Paulo II. 


       


   São João Bosco era um santo italiano repleto de carisma e alegria. Esse santo era carismático e simpático, principalmente com os jovens. Por ter um perfil jovial e alegre, ele conseguia propagar a palavra de Deus para os mais jovens. 

  Seu bom humor também dava a virtude da perseverança nos momentos difíceis. Mesmo quando tinha problemas, São João Bosco optava pela alegria, pois sentia uma grande confiança em Deus e em Maria Auxiliadora. Além do mais, São João Bosco dizia que a busca pela permanência na graça de Deus proporcionava os frutos da alegria e da tranquilidade em nossa vida.  


      


  San Felipe Neri é o padroeiro dos educadores e humoristas. Desde pequeno expressava sua alegria e mostrava muita gentileza. Seu senso de humor e simpatia o ajudaram a fazer trabalhos de caridade em hospitais, lojas, bancos e outros locais públicos para evangelizar. Salienta-se que ele conservou o bom humor até no dia da sua morte, pois ele disse ao seu médico antes de falecer: "Fiquei feliz quando me disseram que vou para a casa do Senhor". 


     


 São Alberto Hurtado foi o santo chileno caracterizado por seu entusiasmo e alegria. O seu carisma apaixonado pelo Evangelho fez com que tivesse um grande apelo na juventude. Sua obra de caridade distribuía comida e abrigo aos mais pobres. Ele escreveu muitas reflexões sobre a importância da alegria na fé, tais como a "Abnegação e a alegria" e a "Oração da alegria". A sua frase mais conhecida foi: "Feliz Senhor, feliz".


         


 São Félix foi um santo italiano que viveu plenamente o sentido do seu nome, já que o seu nome carrega o seguinte significado: "aquele que se considera feliz ou sortudo". Desde criança, teve fama de ser feliz e piedoso, sendo abençoado com muitas experiências místicas. Quando alguém o insultava, São Félix de Cantalice respondia com humor: "Vou pedir a Deus que o torne santo".


         


  O monge beneditino alemão Anselm Grün, conhecido por seus livros religiosos, afirma no seu livro "50 Anjos para a Alma" que o bom humor é inspirado por um anjo: "o anjo do humor". Para esse autor, o humor representa uma preciosa reconciliação com a realidade. Quando temos bom humor, transcendemos a realidade e a relativizamos, pois vemos a nossa vida com outra perspectiva. 

 Segundo Anselm Grün, a vida ficaria triste e tediosa sem humor. Contudo, para o autor, ser inspirado pelo humor não é apenas agir com bom humor. O humor genuíno é a capacidade de transpor a situação concreta e as circunstâncias adversas. Nesse sentido, o humor é um "indício de transcendência" conforme o pensamento do sociólogo americano P. L. Berger. 

 O humor também tem vínculo com a expressão "humus" (terra), assim como a humildade. Quem sabe rir de si mesmo está livre do vício de sentir-se como um monumento perfeito e, consequentemente, está curado do pecado do orgulho. A pessoa bem-humorada reconhece o que é imperfeito em si mesma e nos outros. Ao invés de sentir as imperfeições cotidianas como pesos, o humorado permanece leve quando vê que os pequenos erros não podem perturbar a grandeza da ordem divina. 

 A virtude do bom humor alivia a vida para quem sabe cultivar sorrisos ao invés de mágoas e lágrimas. O bom humor ensina o ser humano a reagir serenamente quando ele está prestes a se irritar consigo mesmo e com os outros. O bom humor preenche a alma com outras virtudes: jovialidade, doçura, reconciliação, amor, gentileza, esperança, leveza e cordialidade. 


               


   O bom humor ensina a alma a rir internamente de si mesma, das situações e dos outros. Ressalta-se que esse riso não é um riso cínico e sarcástico, mas um riso santo que concilia os opostos e encara as divergências naturais entre os seres humanos na esportiva. Portanto, o riso é uma "religiosidade disfarçada" de acordo com Sigismund von Radecki. 

   Convido o leitor a manifestar uma risada hoje. Você já sorriu hoje? Já agiu com bom humor hoje? Já fez alguém sorrir? Provocar sorrisos em alguém pode ser a forma mais bela e santa de generosidade. "Serve ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto (Salmo 100:2)". 


Texto escrito por Tatyana Casarino. Especialista em Direito Constitucional, advogada, escritora e poetisa. 


*Confira o vídeo citado nesse texto:


*A Alegria do Papa João Paulo II - Audiência de 1990. 








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